quarta-feira, 31 de agosto de 2011

ALÉM DA NOITE PRETA - MARY SÓ PENSA EM MALDADES MAS É A COMÉDIA

"Sou do mal, sim!". Com todo o orgulho existente dentro de cada mau-caráter, Mary Matoso não se intimida em propagar suas grandes falhas de caráter. Ambiciosa, interesseira, malvada e deslumbrada, a ex-atriz de filmes pornô tem tudo o que de ruim pode haver numa pessoa. Mas, apesar disso, é irresistivelmente cativante. Razões que a razão desconhece, mas que o Ibope de Vamp não deixa enganar: Mary Matoso é um arraso.

"Sempre achei que na hora que juntasse o meu texto e a interpretação de Patrícia, ela iria arrasar", comemora Antônio Calmon, autor de Vamp e das verdadeiras pérolas cômicas que enchem o texto da novela, principalmente nos diálogos do casal Mary (Patrícia Travassos) e Matoso (Otávio Augusto). Além da clara satisfação pelo sucesso de seu personagem, o crescimento da vampira do mal na história tem outro motivo a ser comemorado por Calmon: Mary era um personagem temido dentro da Globo, e que só vingou graças à "simbiose" entre ele, o diretor Jorge Fernando e a atriz Patrícia Travassos.

"No início, houve medo de que o tom do personagem estivesse exagerado e desagradável, e também porque o triângulo Mary / Jonas (Reginaldo Farias) / Carmem Maura (Joana Fomm) não combinava. Mas tudo era tão novo e tão diferente, que eu sabia que ia dar certo. E deu", comenta Calmon, que escreveu com Patrícia o seriado Armação ilimitada. "Mais do que parceiros, fomos cúmplices", diz o autor que não nega ter escrito Mary pensando em Patrícia, nem que a família Matoso é inspirada na similar internacional - A família monstro. "E olha que pensei nisso muito antes de anunciarem o filme com a Angélica Houston e o Raul Júlia", brinca Calmon.


BRUXA HILÁRIA DE 'ARMAÇÃO' INSPIROU AUTOR - Vampiros, todo mundo sabe, não morrem nunca. Sendo assim, Mary Matoso, um personagem lúdico, simpático ao público infantil e que percorre uma trilha quase paralela à dos outros personagens da história, teria fôlego para sobreviver a Vamp e sustentar um seriado, como Odorico Paraguassú sustentou O bem amado? "A idéia não me desagrada de forma nenhuma", diz Antônio Calmon, autor da novela, que, entretanto, admite que ainda não está fazendo planos para isto.

"Essas coisas acontecem no sistema americano: quando um personagem de novela ou filme dá certo continua num seriado. Mas aqui não há muito isso, não", avalia a atriz, que empresta os agudos de sua voz à duble de cantora e locutora de rádio da fictícia Armação dos Anjos. "Não saco muito se Mary teria fôlego para continuar depois de Vamp. Acho que ela faz parte do contexto da novela", opina Patrícia.

Mas a 'perua' Mary já é desdobramento de outro programa. Foi exatamente num seriado - A bruxa, um episódio de Armação Ilimitada - que Antônio Calmon vislumbrou sua Mary na pele de Patrícia. "Ela fez uma bruxa hilária", lembra Calmon. Por enquanto preocupado em manter o ritmo cômico de Vamp, Calmon responde com um "tudo é possível" para a idéia de Mary e família continuarem a existir, mesmo depois que Vamp acabar.

ELA DÁ LIÇÕES DE MAU-CARATISMO SEM PERDER A POSE - Ex-atriz de cinema pornô, casada por interesse, apaixonada pelo marido da irmã morta, aluna de um curso de bruxaria por correspondência, metida a cantora e adepta do estilo over-over tanto na maneira de se vestir, como na de decorar sua casa, com cabeças decepadas, morceguinhos na parede e muitas carrancas pela casa. "Mary é como se fosse uma criança grande: é vingativa e tem uma ambição desmedida", analisa Patrícia Travassos que, apesar de saber que Mary viraria vampiro, se assustou quando aconteceu.

No início rejeitei a história do vampirismo, porque estava começando a acertar o tom da Mary e achei que ia me perder, lembra Patrícia que nas gravações de Vamp tem que se equilibrar sobre enormes saltos dos tamancos escandalosos usados por Mary Matoso. "Como não há muito tempo para compor um personagem, as pessoas com quem a gente mais conversa são os figurinistas e cabeleireiros. E foi assim que decidimos que Mary seria uma mulher cafona, que parou nos anos 60 e que transa a sexualidade acima de qualquer coisa", conta Patrícia.

O êxito do personagem, principalmente entre as crianças, parece ter uma razão: Mary, embora não consiga realizar nada, fala tudo de mal que as crianças, por motivos óbvios, não poderiam sequer pensar. "Ela dá lições de mau-caratismo como se estivesse falando de regras de escotismo", diverte-se a atriz.

FRASES DE UMA 'PERUA' 

. "Adoro esse nosso five o'clock blood" (Para o marido Matoso, no peculiar chá das cinco familiar, onde os dois tomam sangue humano). "Não sou mais sua filhinha, não obedeço mais a ninguém e sou dona do meu nariz! (...) Sou do mal, sim! Sou uma tremenda ovelha negra, assumidérrima! Sempre fui do mal, apesar de você! Sou péssima, horrivelmente, terrivelmente péssima!" (Para a mãe Virgínia).

. "Vou fazer um monte de feitiçaria para este desgraçado. Amarrar pé de morcego num ovo e enterrar debaixo da terra. Costurar o nome do infeliz na boca do sapo. Cozinhar um fio de cabelo deste palhaço com pó de escama de cobra..." (Para Matoso, mostrando as bruxarias que fará contra Cachorrão).

. "Estou ficando íntima dos segredos do mal! O Vlad vai ser fichinha perto de mim". (Gabando-se de seus novos poderes com o curso de bruxaria por correspondência).

. "Estamos humanos, Matoso. Estamos provisoriamente humanos. Porque se o diabo quiser e São Drácula ajudar, Vlad voltará para reclamar o que é seu". (Corrigindo Matoso, sobre o estado atual da família, temporariamente sem poderes vampirescos).


Por Ana Cláudia Souza
Jornal do Brasil
20/10/1991

Nenhum comentário:

Postar um comentário