terça-feira, 31 de maio de 2011

ALÉM DA NOITE PRETA - UMA VAMPIRA SEM NENHUMA CLASSE

O conde Drácula certamente vai tremer de ódio no túmulo quando perceber que os vampiros estão perdendo a demoníaca classe que tradicionalmente os caracterizou. Isto desde que a perua Mary, que na novela Vamp está divertindo os telespectadores com seu jeito vulgar e os modelitos cafonas, foi mordida por Gerald (Guilherme Leme) (na matéria original, a jornalista informou que Giron, interpretado por Felipe Pinheiro é que havia mordido Mary) e passou a integrar o seleto grupo dos sugadores de sangue. Toda esta trama é vista com muito bom humor por Patrícia Travassos, que depois de assinar roteiros de programas como Armação ilimitada e TV Pirata e vários dos sucessos do extinto grupo Blitz, volta à frente das câmeras na pele da engraçada Mary, uma atriz pornô decadente.

O jeito discreto e calmo de Patrícia em nada combina com as aberrações de Mary, mas isto não atrapalhou a atriz na construção do personagem. "Televisão é intuição. Não há tempo para estudos e reuniões entre autor, diretor e atores para definir o tipo dos personagens", declara, confessando que nos vinte primeiros dias de gravação ficou insegura, até achar o tom de sua Mary. Ela explica que como as novelas devem passar um clima de realidade, procurou fugir da interpretação simplesmente caricatural. "Ela tinha que sofrer um pouquinho também para não virar um tipo só encontrado em programas de humor", define.

Apesar de toda intuição usada na construção de Mary, Patrícia conta que não faltaram modelos a seguir. "Me inspirei nas milhares de mulheres que aparecem no verão e principalmente no carnaval, colocando a sexualidade como a principal qualidade. Elas medem o mundo através do poder da bunda e do peito. O engraçado é que no resto do ano a maioria desaparece", conta, revelando que gostaria muito de saber o que as milhares de marys fazem depois do carnaval.

Além de se divertir com o personagem, Patrícia acredita que está prestando um serviço de utilidade pública. "Elas não conseguem entender que o poder de fogo delas diminui com a idade e terminam pirando. Quem sabe se com a novela elas não se reconhecem no vídeo e percebem que o tempo das peruas já passou", aposta, com ironia. A atriz acredita que a existência das peruas é um fenômeno tipicamente latino, de países machistas, onde muitos homens ainda e se encantam com este tipo de mulher.

Os que se divertem com a atuação de Patrícia na novela não precisam se preocupar com a transformação de Mary em vampira. A atriz conta que apesar - da mudança no vestuário - os modelitos cafonas o vão ganhar tons mais escuros - as caraterísticas bregas da personagem não serão alteradas.


TEXTO TEATRAL É NOVO PROJETO - A agitada Patrícia que surgiu no cenário artístico em 1976 no grupo Asdrúbal trouxe o trombone, um marco na história do teatro brasileiro, amadureceu. Um dos motivos é o filho Nicolau, de um ano e oito meses, fruto de uma produção independente. As idéias da atriz, no entanto, não se modificaram e podem até chocar as cabeças mais conservadoras. Namorada do cartunista Glauco, que mora em São Paulo, Patrícia continua a dividir a casa em Santa Teresa com o ex-marido, o artista plástico Diduche. O tipo de vida afetiva nada tradicional não incomoda a atriz, que sempre procurou manter sua individualidade.

A volta aos palcos está nos planos de Patrícia. Ela confessa que está sentindo saudades do teatro e não quer mais adiar este projeto. A novidade é que o retorno pode acontecer com Patrícia representando em um texto de sua própria autoria. "Tenho muitas idéias mas, depois de escrever vários roteiros sob encomenda para a televisão, quero tranqüilidade para trabalhar e criar livremente, sem pressões", comenta, garantindo apenas que não vai abandonar a linha humorística que sempre esteve presente em seus trabalhos.

Jornal do Brasil 
18/8/1991
Fonte: TV Pesquisa - PUC RJ

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