A ELEGANTE PALIDEZ DOS 'VAMPS'
Os adeptos do vampirismo 'light' fazem da noite seu 'habitat',
povoando a madrugada da Cidade
Eles se vestem de preto, estão por toda parte, não passam despercebidos, mas fazem questão de não serem confundidos. Por isso, mais do que nunca, estão engajados na preservação de uma antiga prática, que ganhou evidência depois que a novela "Vamp" reinventou o termo, instituindo um novo padrão de comportamento: o vampirismo light. Mas o que faz uma pessoa ser considerada vamp? O comportamento da roqueira Natasa, personagem interpretada por Cláudia Ohana, trouxe à tona não só a moda vampiresca, mas uma grande confusão de estilos.
Para o autor da novela, Antônio Calmon, ser vamp é, antes de qualquer coisa, um estado de espírito que envolve uma palidez elegante e chiquérrima, mas sem maldição.
No caso da Natasha, a coisa fica ainda mais leve, porque afinal ela é uma vampira roqueira de novela das sete, e nem lhe cairiam bem certas esticadas noturnas - acredita.
Para compor a personagem, Antônio Calmon inspirou-se na produtora cultural Liège Monteiro. Apesar de orgulhosa com a deferência, a musa de Calmon não se considera vamp, mas prefere ser chamada assim do que ser rotulada como dark.
Duda Liége em 2010 com seu atual marido |
Dark é a situação do País, - dispara ela, com um ar desanimado e a certeza de que a noite do Rio anda decadente, principalmente depois das três da madrugada. - Agora só saio à noite para estréia de peças de teatro, shows intimistas, dançar na Dr. Smith ou ir à casa de amigos, para não ser vampirizada. Muita gente famosa também está nessa: a Marina, o Djavan...
Outra personalidade considerada vamp é a atriz e modelo Daniele Datimerie, que vai logo ensinando:
Os vampiros existem e não têm nada a ver com quem é vamp. O Rio de Janeiro definitivamente não é uma cidade vamp. Quem está acostumado a viver à noite, como eu, sofre muito, porque não existe opção, real de diversão. O pior é que as pessoas confundem a gente com dark, que é uma coisa deprê, e até com punk, uma espécie em extinção.
Mas nem tudo é pessimismo. Para a alegria de alguns, o empresário Ricardo Pimenta acredita que ainda há motivo para investir na noite e anuncia a abertura da boate Midnigth Vamp, na Rua Jangadeiros, em Ipanema, para o próximo dia 26.
A casa, inspirada nos afterhours de Nova York, vai abrir a partir da meia-noite e, dependendo do fôlego de seus freqüentadores, só fechará suas portas às 8h. Detalhe importante e pouco animador: a boate é prive e apenas 400 sócios poderão desfrutá-la.
Ricardo Pimenta, como Daniele Daumerie, define-se como uma pessoa que prefere viver à noite, quando as pessoas são menos neuróticas, mais extrovertidas e sedutoras.
Vamp, para mim, e um ser conquistador por excelência, com muito charme. Vejo como vamps os sócios que estou escolhendo a dedo para minha casa. Não dá para ser vamp sem ser elite - garante Ricardo.
Óculos escuros e creme anti-rugas - Daniele Daumerie, ao lado do namorado, o hell angel Duda, acredita que ainda é possível encontrar vamps em lugares mais acessíveis.
Daniele Daumerie em filme de Zé do Caixão |
- É só fazer o "circuitão" que a gente acaba encontrando "doidões, artistas e pessoas interessantes de um modo geral, sem, é claro, ficar à deriva - diz.
Curiosamente, apesar de toda a lenda sobre a tribo dos angels, Duda garante que não passa do terceiro chope e chega cedo todos os dias em seu consultório, onde realiza cirurgias buco-maxilo-faciais. E haja disposição porque o roteiro sugerido pelo casal requer energia.
Para começar, se ainda for dia, sugiro um licor Southern Confort no restaurante White Fox, ao lado da Midnight Vamp, que tem cortininhas nas janelas - ensina Duda.
Quando cai a noite, a ex-senhora Lobão indica "uns chopinhos descompromissados" no bar Bofetada, em Ipanema.
Depois, uma passadinha no Aquarius, na Rua Real Grandeza. Para suar um pouco, uma esticada até a Dr. Smith, na Rua da Passagem. Se o dia já ameaça clarear, ainda resta o Saideira que tem fechamento simbólico entre oito e dez da manhã - sugere Daniele.
A atriz avisa que um vamp que se preza precisa lembrar de certos cuidados, como ter sempre óculos escuros na bolsa e cremes anti-rugas na cabeceira.
Por Míriam Andrade
O Globo
11/8/1991
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