Matéria publicada no jornal O Globo de 14/07/1991
O que pode juntar um capitão reformado, uma historiadora, uma cantora de rock e vampiros? A novela das sete que estréia amanhã na Globo.
Escrita por Antônio Calmon - com a colaboração de Vinícius Vianna, Lílian Garcia e Thiago Santiago e sob supervisão de Aguinaldo Silva - e dirigida por Jorge Fernando, Fábio Sabag e Carlos Manga Júnior, "Vamp'', como seu autor já avisava na primeira linha da sinopse, "não é uma novela de vampiros, mas uma novela com vampiros".
Com "Vamp", dou prosseguimento a um processo que começou no cinema, com ''Menino do Rio": a preocupação de falar para um público jovem, nem sempre lembrado. Com a "Armação Ilimitada", continuei nessa linha. E deu certo. Sou de uma geração que cresceu lendo o "Drácula", do Bram Stocker, vendo os filmes da Hammer, com Christopher Lee, e fascinado por ficção científica e literatura de horror. Então, juntei as duas coisas. Nasci em 1945 e vivi muito os anos 50, que ainda tinham. um certo romantismo. Fico com vontade de devolver às gerações de hoje coisas que foram marcantes na minha formação. Mas acredito que os jovens, de um modo geral, acabam repetindo - em qualquer época - os mesmos comportamentos na descoberta do amor, da sexualidade, de como é amadurecer, se libertar dos pais, enfrentar os problemas do próprio desenvolvimento físico. Acho que esses temas são eternos.
Para os jovens e crianças de "Vamp" - filhos de Carmen Maura, historiadora especializada no período colonial brasileiro, e Jonas, capitão reformado da Marinha Mercante - os problemas são reais e imediatos. Além das crises individuais, eles têm que lidar, respectivamente, com madrasta e padrasto novos e seis outros irmãos. Mas a capacidade de adaptação do ser humano contribui para que logo todos descubram encantos nessa nova vida, com algumas exceções...
Quando a tranqüilidade parece começar a existir para essa imensa família, surge Natasha, cantora conhecida internacionalmente e ídolo de grande parte dos jovens, inclusive os de Armação dos Anjos. Ela chega à cidade para a gravação de um novo clip na paradisíaca Baía dos Anjos. Na verdade, porém, a roqueira está em busca de sua libertação. Calmon explica:
- No início da história, Natasha mora em São Paulo e há tempos bate em vão na porta do sucesso. Em mais um dos testes a que se submete, sem êxito, ela cruza com Vlad, um vampiro antiqüíssimo, que está perambulando por lá. Furiosa, a cantora diz que até venderia sua alma em troca da fama e, sem querer, faz um pacto com o Mal, não com o Diabo, mas com o vampiro. Ele se aproveita disso para mordê-la, dominá-la, dando em troca o que queria. Mas é um preço muito alto, que a jovem decide não mais pagar. Como acredito num equilíbrio entre as forças, existem também as do Bem, através de Rafa, um humilde faxineiro que vai ajudá-la. Ele sabe onde Vlad se esconde e o que terá que fazer para destruí-lo: encontrar uma antiga cruz, a Cruz de São Sebastião, perdida na Baía dos Anjos. Como o Santo Graal, na lenda do Rei Arthur, ela deve ser usada por um homem de coração muito puro, que aqui se chama Rocha.
As peças começam a se encaixar. Rocha é o sobrenome de uma das famílias mais conhecidas de Armação dos Anjos, a do Capitão Jonas. Isso é apenas o início. Ao chegar ao local, Natasha traz para o sossego da região alguns intrusos, como o empresário Gerald Lamas e o produtor Giron, todos ligados à sombra de Vlad. Além de Rafa, apenas Ivan, um pintor sensível, sabe sua presença na Baía dos Anjos. Mas não são apenas esses os "vampiros" de "Vamp", segundo o autor:
- Tem que ficar claro que o vampirismo na novela é apenas o molho, a maneira que encontrei de dar um charme diferente à história. O vampiro é muito forte, que, ligado à sexualidade e à imortalidade, atiça a das pessoas. Os meus andam de dia, não têm problemas com alho... E isso tem causado revolta nos vampirólogos de plantão, que se acham donos do assunto. Não estou usando o tema gratuitamente. Os vilões da história são todos vampiros ou se transformarão num deles, ligados ao poder econômico, à falta de escrúpulos. Só estes terão prazer. A Natasha é uma vítima, nunca mordeu ninguém, e, portanto, necessita de transfusões de sangue. E o Ivan, um vampiro trágico, uma pessoa boa que foi contaminada, vive torturado, angustiado com isso.
O molho está preparado, mas outros ingredientes dessa receita têm um peso fundamental. Principalmente nas histórias de Calmon, onde crianças e adolescentes se destacam. Ele explica:
- Tenho coisas até meio pesadas nos filmes que fiz. Mas entrei e saí pobre do cinema brasileiro. Minha vida só melhorou porque virei um escritor de TV, que agora pode se dar ao luxo de ser roteirista de filmes também. Aos poucos, esse lado infanto-juvenil das minhas histórias foi se tornando mais forte. Normalmente, nas novelas, as crianças não têm vida própria, só existem porque há personagens que precisam de filhos, netos... Percebi que essa situação me incomodava, porque a criança e o adolescente são pessoas mais abertas e sinceras, com quem se pode ser menos hipócrita.
Em sua segunda novela, após "Top Model", Calmon não esconde a satisfação de ter Jorge Fernando na direção:
- Sempre fui seu fã e estou adorando! O Jorginho não sabe, mas foi completamente vampirizado por mim e pela equipe dele, que já estava na novela. Seu ótimo astral se reflete em todo o trabalho. Vou roubá-lo, para sempre, do Sílvio de Abreu - brinca.
Colaborou
Júlio César Martins
jcamartins@gmail.com
Colaborou
Júlio César Martins
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